Memórias do Rio Itabapoana – 5


O naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire, em 1818, confirma as informações do príncipe Maximiliano de Wied-Neuwied, que passou pelo norte fluminense em 1818. Depois de deixar a praia de Manguinhos, limite setentrional da maior restinga da região, ele mergulhou numa luxuriante mata percorrida três anos antes pelo príncipe naturalista. Suas impressões são similares. Muito tempo custou para que o botânico francês chegasse à margem direita do Rio Itabapoana. Por fim, o diplomata e naturalista suíço J.J. Tschudi, proveniente do Espírito Santo, dá notícia de ter atravessado o Itabapoana num trecho bastante largo e de ter caminhado quatro horas no interior da mata virgem.



É no contexto do planalto, do tabuleiro e da restinga que se deve inserir a planície fluvial e fluviomarinha do rio Itabapoana. É no contexto da floresta estacional e da vegetação psamófila costeira que se deve incluir o manguezal, pois que, ao lado da influência marinha, ele recebe do rio e da sua vegetação envolvente os nutrientes que serão processados em seu interior para sua sustentação e dos seres que abriga. Originalmente, o manguezal do Rio Itabapoana deveria alcançar uma grande extensão da foz para montante, apenas superada pelo manguezal do Rio Paraíba do Sul na região. Nenhum relato antigo a seu respeito foi deixado por residentes no Brasil ou por viajantes estrangeiros.



Parece que só a escuta atenta do ecossistema com aparelhos de precisão vai nos permitir a reconstituição de sua fisionomia primeva. Se julgarmos que a foz do rio ou sua planície fluviomarinha esteve relativamente protegida da última grande elevação do nível do mar, há 5.100 antes do presente, podemos imputar ao manguezal que ali se desenvolveu idade bastante antiga. As informações mais remotas sobre ele, contudo, devem estar mais nos sedimentos e no pólen que nos documentos deixados por seres humanos.



Outro caminho que se nos abre é o da projeção para o passado a partir do que restou no presente. Neste sentido, é de se notar que a língua salina das marés penetra alguns quilômetros rio acima, criando condições para a expansão, o enraizamento e o desenvolvimento de um manguezal tipicamente ribeirinho, conforme tipologia de Lugo e Snedaker modificada por Cintrón em colaboração com outros pesquisadores. Lê-se, num clássico trabalho de síntese, que este tipo de manguezal se desenvolve ao largo das margens dos rios, freqüentemente até o ponto aonde chega a máxima intrusão salina.
Neste ambiente, os fluxos de água são intensos e as águas são ricas em nutrientes e ambos os fatores conduzem a um alto grau de desenvolvimento da vegetação. Estes manguezais não têm problemas de acumulação de sais ou falta de nutrientes já que os fluxos de água doce são contínuos ou quase contínuos e a energia cinética da água contribui para a oxigenação e dissipação de substâncias nocivas.

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Arthur Soffiati 
Doutor em História Ambiental e pesquisador da Universidade Federal Fluminense.





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Memórias do Rio Itabapoana - 1

Memórias do Rio Itabapoana - 2

Memórias do Rio Itabapoana - 3

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