Uma matriarca indígena, nos primórdios da vila de Arrozal de Santana

O DNA dos índios Puris está em diversas famílias bom-jesuenses, inclusive deste que vos escreve



O Blog do Frederico reproduz um trecho, do documento "Inventário do  Patrimônio Ambiental e Urbano de Varre-Sai" (INEPAC-RJ):

José Antônio Abreu de Oliveira em seu trabalho registrou que no final do século XIX os Puris já haviam desaparecido completamente. (...) Seus genes sobreviveram nas índias, bisavós dos habitantes de hoje, caçadas à laço pelos brancos, que deixaram seus traços em pelo menos um terço ou metade da população que compõem a Zona Mineira da Mata e o Noroeste Fluminense. 

(...) Meu bisavô, Domingos Campos, era português da região de Valdevez. Por volta de 1880 veio parar aqui nessa região que já havia sido posseada pela família de Lannes. Veio parar em Sant'Ana do Rosal, atual Rosal, distrito de Bom Jesus do Itabapoana. Dizem que lá ele conheceu uma índia, numa tribo, uma das últimas remanescentes de índio puri. Os índios Puris, depois do devassamento da região morreram. Não aguentaram. Mas, sobreviveram pela linhagem materna. 



As mulheres puris aceitavam a dominação do homem branco. O índio puri (o homem), não deixou linhagem. Todos os descendentes que encontramos dessa época são filhos de mulheres puris. Dificilmente encontraremos um descendente de índio puri com mulher branca. 

Aqui estava esse rebotalho dos últimos índios puris, que habitavam essa região de Purilândia, Rosal, Varre-Sai e Vala dos Índios. Esse rapaz, Domingos Campos, chega à Rosal e encontra essa tribo, num local em que já havia povoamento branco. Na tradição familiar, ele pegou a índia a laço. Uma vez capturada, a fez sua esposa. Nós não sabemos se isso foi verdade. Pode ser que ela tenha sido pega mesmo a laço, ou ter sido parte de alguma negociação, vendida ou trocada por cachaça. Ela era muito bonita e ele se apaixonou por ela. Comprou uma enorme quantidade de terras que ia quase de Varre-Sai a Santa Clara, distrito de Porciúncula, para plantar café. Fez uma casa dessas antigas, um curral e comprou bois. 

O café nessa época está no auge e as pessoas daqui se enriquecem e eles se tornaram uma família muito prestigiosa pelo poder econômico. Com ela, teve duas filhas, Júlia e Maria. Júlia é a minha avó, mãe de meu pai. A índia, minha bisavó, chamava-se Zeferina. Ela era uma mulher que aceitava o jogo do poder, mas quando ficava muito chateada ela fugia pro mato. Lá no mato ela passava três, quatro dias, depois voltava. Ele ia lá tentar pegá-la e não conseguia. Ele colocava gente atrás dela, mas eles não conseguiam pegá-la. 

Ela tinha uma habilidade muito grande de entrar no mato e só voltava quando queria. As músicas de ninar da minha avó Júlia eram canções indígenas que ela cantava, ninando a filha no alpendre dacasa. Ela adorava os animais, conversava com lagartixas, respeitava as lagartixas. Ela não queria que matassem os sapos. Ela tinha um grande carinho pelos animais, passarinhos e criações. Observando a foto dela, (isso é minha interpretação), vemos que a condição da mulher era muito dura, tinha muito pouca autonomia. 



Ela tem uma face de pessoa submissa. Vestido negro, mangas compridas, coque, mas você identifica os traços indígenas. Ela teve cabelo preto até os 90 anos. É possível verificar que ela pertencia a uma etnia diferente, porque ela trazia as orelhas perfuradas, cortadas. Realmente era uma fenda e se vê o lóbulo separado. Ela era uma índia de tribo, foi apanhada dentro dos costumes indígenas, que já estavam se aculturando mas ainda bem presentes. Ela viveu se não me engano até os 90 anos. Morreu bem velhinha, mas a tempo de ter participado do casamento da filha, quando tirou essa fotografia. Seu nome civil era Zeferina de Souza Campos. 

Meu bisavô a recebeu como esposa, pois foram casados no civil e no religioso. Essa foto é de 1914. Minha mãe contava que, quando criança, ouvia as pessoas contarem sobre ela. Dizia sobre esse amor dela pelos animais, das canções indígenas que cantava para suas filhas e que gostava de coletar frutas silvestres nas matas. (...).(19).


(18) Ibidem, p.185.
(19) Entrevista concedida pelo Dr. José Antônio Abreu de Oliveira. Varre-Sai. 2011. (20) JOSÉ, Oiliam. Indígenas de Minas Gerais. Aspectos Sociais, Políticos e Etnológicos. Belo Horizonte. 1965, p. 36.

Comentários

  1. Boa noite Frederico bacana esta historia. Eu acabei de saber recentemente a origem da minha familia por parte de pai. as informações são as seguintes : Informação sobre nossa origem:
    Confirmamos hoje com base em documentos históricos nossas origens indígenas.
    A linhagem é a seguinte: Antonio Januario Carneiro socializou com uma índia Puri na região de Piranga MG por volta de 1815. Esta índia aparece em vários documentos históricos, pois viveu e teve um casal (Camilla y Antonio) com este Capitão-Mor de alta patente e linhagem importante em Portugal.
    Ela é denominada nos livros como Clara e seus dois filhos foram reconhecido por Antonio Januario Carneiro que os batizou com seu sobrenome.
    Esta é a base do Família Carneiro Brasileira.
    A filha foi batizada como Camilla Carneiro e alguns livros escrevem Camilla Curry Carneiro, mas pode ser que o Curry possa ter sido mal interpretado e o correto poderia ser Puri, a Tribo a qual a tal Clara pertencia na região da Zona da Mata em Minas Gerais.
    A Camilla casou-se com Luiz Antonio Carneiro (Da Família Carneiro de Portugal) e tiveram a Francisca Januaria Carneiro (Vó Chiquinha), que se casou com Jacinto Marcos Passeado e tiveram, Cyrillo Deocleciano Passeado, pai do Jacintho Madeira Passeado, pai do Jacinto, Marly, Mauricio, Fernando, Marcio e Luisa Passeado, pais de todos nós. Portanto, temos sangue indígena 6 gerações acima: Marly, Jacintho, Cyrillo, Francisca, Camilla e Clara (India Puri). Bom, o Antonio Januario Carneiro tem história de ascendentes importantes como Borba Gato e outras famílias em Portugal.

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