O Projeto RadamBrasil (1983) mostra que o curso
superior do rio Itabapoana corre na zona cristalina. O baixo curso construiu
uma considerável planície ladeada por formações rochosas, pelos tabuleiros do
norte do Estado do Rio de Janeiro e do sul do Espírito Santo e ainda pela
restinga de Morobá ou das Neves. Esta planície
apresenta nuances. Na parte mais interior, assume a fisionomia de um terraço
fluvial em plano levemente inclinado. Na parte central, o rio corre numa
planície fluvial resultante da acumulação de sedimentos e sujeita a inundações.
No trecho final, as influências fluviomarinhas criaram uma área plana
resultante de processos de acumulação produzidos pelo rio e pelo mar. É nesta
área que se desenvolveram a chamada Lagoa Feia do Itabapoana e o manguezal.
Para completar esta
breve tentativa de tradução e interpretação da formação geológica,
geomorfológica e topográfica do vale do Itabapoana, Martin, Suguio, Dominguez e
Flexor chamam a atenção para a antiguidade dos depósitos arenosos da costa
norte do Estado do Rio de Janeiro. Dizem eles: “No
setor compreendido entre a foz do rio Itapemirim e Guaxindiba, os depósitos
arenosos pleistocênicos atingem um desenvolvimento notável somente no vale do
rio Itabapoana. Na planície situada na desembocadura do rio Paraíba do Sul, os
depósitos arenosos pleistocênicos são bem desenvolvidos, sobretudo na porção
sul, entre Barra do Furado e Macaé. A altitude da parte externa deste terraço é
pequena e a partir da lagoa de Carapebus, as areias da praia atual (único
testemunho de depósitos holocênicos) transgridem sobre as areias
pleistocênicas. A presença de cristas praias na superfície dos depósitos
arenosos pleistocênicos indica que esses terraços não foram afogados durante a
última transgressão, sugerindo que essa zona tenha sofrido subsidência durante
os últimos milhares de anos, isto é, após 5.100 A.P.”
Assim, o rio
Itabapoana, em seu curso final, é bem mais antigo que o rio Paraíba do Sul
também no seu trecho derradeiro. Cumpre observar ainda que, embora a foz do
Itabapoana seja representada na cartografia como um estuário simples, de um só
braço a desembocar no mar, existem mais dois laterais, à direita e à esquerda,
como a configurar um pequeno delta. O braço à direita foi registrado pelo
geólogo canadense Charles Frederick Hartt em 1870. O da esquerda aparece na
Folha SF-24-H-I-3, do IBGE, em escala 1:50.000, correspondente a Itabapoana,
como um pequeno lago paralelo à costa. Tudo indica que ambos desembocavam no
mar e acabaram fechados pela energia marinha.
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Arthur Soffiati é Doutor em História Ambiental
pela UFRJ
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