A empresa de
engenharia Hildalius Cantanhede fez, para o Departamento Nacional de Obras e
Saneamento, um trabalho de cartografia intitulado Rio Itabapoana - levantamento
em escala 1:20.000, datado de 1961. Concentrando-se apenas nos aspectos
relacionados à engenharia, o trabalho assinala brejos, valões, córregos, rios,
fragmentos de mata, capoeiras, lavouras, pastagens e concentrações humanas,
sem, contudo, nomeá-las. O canal projetado no século XIX, pela visão euclidiana
da engenharia sanitária e do DNOS, tinha alcance mais amplo do que simplesmente
facilitar a navegação num trecho bastante sinuoso do rio Itabapoana. Ele visava
também drenar toda uma zona altamente pantanosa para colocar terras férteis à
disposição de proprietários rurais e levar água a partes afastadas do rio.
Tudo em benefício da
agropecuária e da agroindústria açucareira.
No ano seguinte, o mesmo escritório promoveu o levantamento do ribeirão de Santo Eduardo, um dos afluentes do baixo curso do Itabapoana às margens do qual se instalou a Usina Açucareira de Santa Maria, hoje desativada. A finalidade era a mesma: canalizar o ecossistema para subordiná-lo aos interesses da agropecuária e da agroindústria sucro-alcooleira (Valão de Santo Eduardo – Levantamento em escala 1: 5.000, 1962).
Na década de 1960, a bacia do Itabapoana entra definitivamente no plano de obras do Departamento Nacional de Obras e Saneamento. O topógrafo Divaldo Carvalho, que trabalhou primeiro no Escritório Hildalius Cantanhede e depois no Departamento Nacional de Obras e Saneamento, salienta a necessidade de rasgar-se um canal paralelo ao baixo curso do rio Itabapoana, nascendo e morrendo nele, para drenar uma área excessivamente encharcada.
Nasceu, assim, o
canal de Todos os Santos. No acervo da representação do órgão no Rio de
Janeiro, algumas fotos tomadas em 1967 retratam a situação da bacia. Uma delas
registra cheia colossal do rio. Tais efusões caóticas da natureza eram
incompatíveis com a geometria euclidiana do órgão, que se outorgou o papel de
ordenador do caos e de instituir o cosmo. As outras fotos mostram a retificação
de um trecho do Itabapoana no município capixaba de Guaçuí.
Hoje, o antigo pantanal às margens do rio Itabapoana ainda é conhecido por Lagoa Feia do Itabapoana. Outrora, foi um ecossistema de alta biodiversidade e produtividade biológica. Hoje, só nas grande cheias ele volta a mostrar a cara, mas não com a mesma força do passado.
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os artigos anteriores dessa série
Memórias
do Rio Itabapoana - 1
Memórias
do Rio Itabapoana - 2
Memórias
do Rio Itabapoana - 3
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do Rio Itabapoana - 4
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do Rio Itabapoana - 5
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do Rio Itabapoana – 6
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do Rio Itabapoana – 7
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